Sobre o Selo
Esta emissão celebra os duzentos anos de nascimento de uma mulher que foi eternizada como uma heroína em dois continentes por seus feitos. A arte do selo é uma composição de Anita Garibaldi em suas múltiplas facetas: a mulher, a guerreira, a mãe. Há também o desenho de uma rosa, símbolo de Anita. Foram usadas três cores, que, em conjunto com a cor do papel, representam o Brasil, país de nascimento de Anita, e Itália, que a reconhece e a seu companheiro Giuseppe Garibaldi como heróis responsáveis pela unificação do país. A técnica usada foi computação gráfica e impressão calcográfica (intaglio).
200 Anos do Nascimento de Anita Garibaldi
Ana Maria de Jesus Ribeiro nasceu em 30 de agosto de 1821 no sul da então província de Santa Catarina, parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-22). Ela morava na vila de Laguna quando em 1839 os rebeldes farroupilhas proclamaram a República Juliana, separando a região do Império Brasileiro (1822-89). Naquele momento, conheceu o italiano Giuseppe Garibaldi, um dos combatentes farroupilhas, por quem se apaixonou e posteriormente casou, passando a ser chamada de Anita Garibaldi.
Com grande coragem, Anita participou diretamente dos combates em terra e no mar, ao lado de Giuseppe, na defesa da República Juliana e, após a queda desta, nas lutas que se seguiram entre as forças farroupilhas e imperiais. Ela acabou sendo capturada em um combate ocorrido na região de Curitibanos em Santa Catarina, mas conseguiu fugir sozinha pelas matas da região e encontrar Giuseppe Garibaldi.
O casal seguiu com as forças farroupilhas para o Rio Grande do Sul, onde Anita deu à luz, em 16 de setembro de 1840, a seu primeiro filho, Menotti, na localidade de Mostardas. A região foi atacada por forças imperiais e Anita, mesmo convalescendo do parto, conseguiu fugir a cavalo dos atacantes, com seu filho recém-nascido nos braços. A família seguiria para São Gabriel, sede dos farroupilhas, onde Giuseppe solicitou sua saída das forças combatentes, mudando-se a seguir com Anita e seu filho para Montevidéu no Uruguai.
Na capital daquele país, Anita e Giuseppe oficializaram seu casamento em 26 de março de 1842. Ele acabaria se envolvendo nas lutas dos uruguaios contra as forças do ditador argentino Juan Manoel Rosas, tendo criado naquele momento a Legião Italiana, composta por exilados políticos, a qual também o acompanharia no retorno à Itália e nas lutas para unificação daquele país. No Uruguai nasceram mais três filhos do casal, Rosita, Teresita e Riccioti, sendo que Rosita acabou falecendo de difteria em 1845.
O envolvimento de Giuseppe no movimento pela unificação da Itália, levou a família de volta à Europa, em 1848, onde ele logo se envolveu em combates em prol dessa causa. A proclamação da República Romana, em 1849, foi seguida de um ataque do exército francês, tendo Garibaldi e seus voluntários lutado em sua defesa. Anita, grávida de seu quinto filho, foi ao encontro de Giuseppe em meio aos sangrentos combates pela defesa da cidade de Roma.
Com a queda da República Romana, Anita, Giuseppe e mais de três mil homens, objetivando continuar a luta, se retiram da cidade, escapando do cerco das tropas francesas e austríacas. Durante a fuga, o exército acabou se dissolvendo e enfraquecida, Anita adoece e precisa ser carregada por Giuseppe e alguns de seus companheiros. O grupo, em meio a perseguição dos austríacos, chegou à Mandriole, no norte da Itália, com Anita cada vez mais doente. Ela acabou por falecer na Fazenda Guiccioli, em 4 de agosto de 1849. Anita teve de ser enterrada às pressas e sem a presença de Giuseppe, que precisou escapar do cerco austríaco. Os restos mortais de Anita passaram depois por diversos sepultamentos, sendo inclusive em determinado momento escondidos por correligionários de Giuseppe, pois temiam que fossem profanados. O marido e os filhos retornaram à Itália em 1859.
Anita passou a ser progressivamente celebrada na Itália, junto com Giuseppe, como heroína da unificação italiana, ganhando um monumento equestre em sua homenagem na colina do Gianicolo, em Roma, sob o qual foi definitivamente sepultada no ano de 1932. No Brasil, devido ao regime monárquico, e ao envolvimento de Anita com a causa republicana, ocorreu um silenciamento a seu respeito durante boa parte do século XIX, mesmo quando ela já era louvada como heroína na Itália.
Com a Proclamação da República, ela passaria a ser cada vez mais celebrada, junto com as pessoas que lutaram em prol dos ideais republicanos. Sua coragem, seu amor por Giuseppe e seu engajamento nas lutas no Brasil e na Itália lhe trouxeram a alcunha de “a heroína dos dois Mundos”. Ela teve seu nome inscrito, pela Lei Federal nº 12.615, de 30 de abril de 2012, no Livro dos Heróis da Pátria Brasileira, tornando-se dessa forma oficialmente uma heroína brasileira.
Duzentos anos após seu nascimento, Anita Garibaldi é considerada um símbolo de amor, determinação, bravura e capacidade de luta por ideais, sendo homenageada das mais diversas formas, em músicas, poemas, livros, filmes e monumentos. Seu nome foi dado a ruas, avenidas, praças, bairros, cidade, escolas, centros de saúde, entre outros, no Brasil e na Itália. Seu nome também denomina grupos culturais nativistas, coletivos de lutas sociais e feministas. Lembrar de Anita, de sua vida, suas lutas e ideais também é uma forma de destacar o inconformismo e a busca pela superação das adversidades, qualidades fundamentais ao ser humano para fazer frente aos seus desafios na construção de um mundo melhor.
Fábio Andreas Richter.
Historiador da Fundação Catarinense de Cultura e Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Detalhes Técnicos
Edital nº 11
Arte: José Carlos Braga
Processo de Impressão: calcografia
Papel: cuchê gomado
Folha com 12 selos
Valor facial: R$ 3,55
Tiragem: 120.000 selos
Área de desenho: 35 x 25mm
Dimensão do selo: 40 x 30mm
Picotagem: 11,5 x 12
Data de emissão: 30/8/2021
Locais de lançamentos: Brasília/DF, Florianópolis/SC e Laguna/SC
Impressão: Casa da Moeda do Brasil
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