Filatelia Temática
Comissário FEBRAF - Rogério Dedivitis (dedivitis.hns@uol.com.br)
1 - Filatelia Temática: uma boa opção!
Cada um coleciona selos e demais peças filatélicas da maneira como bem entende e como sente maior prazer. Muitas vezes, o começo da coleção não se prende a regras. Coleciona-se de tudo e o material que é acumulado acaba sendo classificado, geralmente por países e, dentro de cada país, por ordem cronológica de emissão. Essa fase inicial possibilita, ao colecionador, a obtenção muitos conhecimentos e faz com que ele tenha o hábito de manusear selos, guardá-los nos classificadores e ganhar gosto pela coleção.
Com o passar do tempo há uma tendência natural para a especialização. Na verdade, algumas pessoas já desde o início restringem suas coleções. A maioria coleciona selos de seu próprio país. A principal motivação para isso é a afinidade cultural com o material colecionado. Nem dá, hoje em dia, para justificar pela facilidade de comprar novos itens, pois a Internet possibilita adquirir tudo (ou quase tudo) sem sair de casa e de acordo com o bolso de cada um.
A coleção por países é a típica coleção dita Tradicional. Considera-se o país, a data de emissão e os dados técnicos do selo, como denteação (picote), filigrana do papel (marca d'água), tipo e espessura do papel etc. Outros materiais filatélicos podem ser colecionados dentro desse foco: carimbos, inteiros postais, cartas etc. Ver ilustrações na Figura 1 e na Figura 2.
Figura 1
Selos clássicos não oferecem muitas opções para o colecionador temático.
Figura 2
Carta da Alemanha da época da inflação entre as guerras (1921 a 1923), em que se pode desenvolver um estudo de portes. A alta inflação levava a ajustes quase diários do porte postal!
Entretanto, o selo e as demais peças filatélicas oferecem outros atrativos para o colecionador, como o desenho e o motivo de emissão. A possibilidade do uso de diversos tipos de peças permite uma apresentação bastante especial à coleção temática. Todo material postal pode ser utilizado, desde que relacionado com o tema escolhido. Ver Figura 3.
Figura 3
As emissões brasileiras de D. Pedro II são muito procuradas por colecionadores tradicionais de Brasil. Contudo, entram muito bem em uma coleção temática sobre História do Brasil, por exemplo.
A escolha do tema depende do gosto de cada colecionador. Diversos fatores podem interferir nessa escolha, como a profissão do filatelista (coleção sobre medicina, matemática, pontes etc.) ou um passatempo, preferência ou gosto pessoal (coleção sobre vinhos, cães, orquídeas, mitologia grega, futebol, pinturas etc.).
Toda coleção temática deve conter um plano ou roteiro que deve estar presente logo no início da coleção. O plano é uma espécie de índice ou guia que divide a coleção em capítulos e subcapítulos, dentro de uma lógica. Portanto, para fazer uma coleção temática, é importante ter conhecimento acerca do tema escolhido, além, é claro, de conhecimentos filatélicos.
Figura 4
Outra carta circulada, da Alemanha, na época de alta inflação.
2 - A pesquisa na coleção temática
No desenvolvimento de uma coleção temática o filatelista tem dois tipos fundamentais de pesquisa a efetuar: a temática e a filatélica. Sendo bem feitas, resultarão em uma boa coleção.
A pesquisa temática consiste no estudo detalhado do tema escolhido. Muitas vezes, o colecionador escolhe um tema que se relaciona à sua atividade profissional ou ao seu lazer. Nesse caso, a pesquisa fica facilitada, pois ele já tem conhecimentos a respeito do que escolheu. Os estudos do tema devem ser profundos, no sentido de que se encontrem aspectos inusitados e originais, o que valoriza muito a coleção do ponto de vista temático. Mesmo depois de montada a coleção, a pesquisa temática deve continuar, pois é muito dinâmica e deve sempre atualizar-se.
Quem coleciona, por exemplo, a temática “aves”, não vai somente pesquisar aspecto morfológicos e funcionais do animal, mas vai procurar outros animais de participem, juntamente com as aves, da cadeia ecológica, bem como pesquisadores, institutos, eventos e simbolismo relacionados às aves. Todos estes últimos aspectos poderão ter representação em selos e outros materiais filatélicos, dando à coleção um toque de originalidade.
A pesquisa filatélica relaciona-se à procura do material filatélico para que se possa montar a coleção. Antes de qualquer coisa, o temático é um filatelista e deve conhecer a existência das peças de seu tema. Isso é mais fácil para os selos, bastando ter a paciência de folhear (ou mudar a tela do computador) um catálogo universal, país a país.
A ampla disponibilidade de browsers e portais facilita a busca de outros materiais filatélicos. Mesmo assim, carimbos, cartas, inteiros postais poderão ser encontrados ainda em listas de leilões, monografias e, sobretudo, em outras coleções, daí a importância da constante visita às principais exposições filatélicas. Sabendo qual o material filatélico existente, deve-se adaptar a sua aquisição ao tamanho da vontade e do bolso. Nesse sentido, a Filatelia Temática é bastante democrática, sendo possível montar um belíssimo conjunto sem necessariamente gastar muito.
Esses dois tipos de pesquisas caminham juntos e devem ser desenvolvidos em conjunto, de modo dinâmico e contínuo, visando um progressivo aprimoramento da coleção.
3 - Onde montar a coleção temática?
Para os iniciantes
Onde guardar os selos e as peças filatélicas que fazem parte da coleção temática? Essa é uma pergunta comum entre os que debutam. Para os selos, a opção cai, via de regra, sobre os classificadores, em cujas tiras de acetato eles podem ser livremente manipulados e mudados de posição, conforme a coleção vá aumentando. Se novos capítulos surgem com o passar do tempo, fica também fácil mobilizar os selos.
Para os avançados
Para o filatelista cuja coleção já esteja razoavelmente adiantada, com bom acúmulo de material, a questão é outra: expor ou não expor? O fato é que, quando a coleção atinge certo nível, há a opção de participar de exposições, sejam mostras, sejam aquelas competitivas, desde as regionais até as nacionais ou internacionais. É uma chance de mostrar nosso trabalho para uma quantidade bem maior de pessoas, cujas sugestões poderão ser úteis para futuros melhorarmos. Podemos aprender muito com outras coleções mais adiantadas. Podemos ainda adquirir peças interessantes junto aos comerciantes e, também, juntos às administrações postais presentes nesses eventos.
Entretanto, cada qual coleciona como bem desejar. Contudo, para expor e competir, é necessário adaptar-se a certas regras, adotadas por consenso ou consagradas pelo uso. A normatização na montagem das coleções visa controlar certos excessos e permitir comparações, para que o júri possa realizar seu trabalho de julgamento das coleções expostas.
A folha
Um dos aspectos a considerar é o da folha da coleção. Ao contrário do que se possa imaginar, há certo dinamismo e os conceitos mudam pelo uso.
-Consistência
A maioria dos expositores utiliza papel mais grosso do que o sulfite habitual - acima de
30 ou 40 gramas. Papel fino é inadequado para sustentar peças pesadas e para manter-se em posição quando se usam janelas e gavetas para mostrar parte de um envelope não circulado, por exemplo. Há colecionadores que conseguem fazê-lo, mas aí, além da tradicional bolsa plástica de proteção que envolve a folha, utilizam uma cartolina por trás da folha fina, para dar maior firmeza. Já papéis muito espessos (acima de 60 gramas, por exemplo) talvez não consigam passar por uma impressora convencional, o que dificultaria a impressão.
-Fundo
Aqui não há discussão: deve ser liso. Não se usam mais, em exposições, folhas com quadriculado, que dariam, fatalmente, à montagem, um aspecto "pesado".
-Cor
Quem usa o branco nunca erra. A única desvantagem é que, com o passar do tempo e com a exposição à luz, o branco fica amarelado e isso dá uma aparência de coleção antiga e mal cuidada. Muitos colecionadores usam um bege claro, tom pastel. É
discreto e evita o efeito visual do envelhecimento do papel. Já foram vistos papéis em um cinza bem claro, também com efeito harmônico. Tudo o que fuja disso pode ser ousado. Algumas ousadias chamam a atenção para o bem, mas outras viram um "escândalo". Na dúvida, evitemos!
-Tamanho
Tradicionalmente, a folha era no formato de retrato, ou seja, com a altura maior que a largura. A medida básica era 29,7 x 21,0 cm (formato A4), adequada para os quadros expositores e para todas as impressoras de uso doméstico ou no escritório. Nos últimos anos, e visando bem receber peças de dimensões maiores, folhas de 29,7 x 42,0 cm (formato A3), passaram a ganhar a preferência de algumas das coleções de alto nível. É necessário investir em uma impressora que seja adequada, bem como encomendar bolsas plásticas com tamanho suficiente para guardar cada folha.
4 - Só Brasil em Temática?
Ainda se observam em algumas coleções, sobretudo entre filatelistas juvenis, o hábito de colecionar temáticas restritas ao país, como "História do Brasil", "Fauna do Brasil" e outras. E mais: tais coleções são básicas ou exclusivamente constituídas por selos e peças filatélicas brasileiras.
Claro está que o colecionador é livre, mas não se pode deixar de tecer algumas considerações a respeito.
Primeiro, uma temática desse tipo é muito restrita, tanto para o desenvolvimento temático da coleção quanto para a pesquisa filatélica, ou seja, sobre o material filatélico que vai constituir a coleção. Tal problema aumenta quando se restringe apenas para material filatélico brasileiro.
Na verdade, uma coleção temática brasileira poderia incluir peças estrangeiras, por exemplo: selos portugueses alusivos a Pedro Álvares Cabral, D. Pedro I ou José Bonifácio caberiam em uma hipotética coleção de "História do Brasil".
De outro lado, alguma emissão sobre jardins zoológicos que ilustrasse animais brasileiros entraria em uma "Fauna do Brasil".
Mesmo assim, o campo de ação fica limitado e isso dá poucas possibilidades, ao filatelista, de mostrar seus conhecimentos filatélicos.
5 - Pesquisa Filatélica
A pesquisa filatélica consiste no estudo, na procura, na seleção e na utilização dos selos e diversos documentos postais. As fontes são: catálogos gerais e especializados, listas de vendas de material filatélico (algumas são divididas por temas), crônicas de novidades e, sem dúvidas, exposições filatélicas.
A relação entre certas peças e o tema escolhido é óbvia. Entretanto, devemos ter em mente, também, os assuntos secundários. São detalhes ou pormenores do desenho do selo ou da peça filatélica, muitas vezes de grande importância temática, apesar de estarem "escondidos" no canto ou no fundo do desenho. São ainda assuntos relacionados ao dito desenho, mas que não aparecem diretamente.
Um exemplo desta última situação ocorre em uma coleção sobre Medicina, em que não haja material sobre certa doença, mas sim ilustrando pessoas que eram portadores da enfermidade. Eis um exemplo: para ilustrar a arritmia cardíaca, podem- se utilizar materiais sobre o chanceler alemão Konrad Adenauer (ver Figura 1).
Figura 1
Selo e carimbo comemorativos em homenagem a “Konrad Adenauer”.
Político famoso, Adenauer foi o primeiro chanceler da República Federal da Alemanha (1949-1963). Era possuidor de arritmia cardíaca e faleceu em abril de 1967, com 91 anos, vítima de um ataque cardíaco.
Os conhecimentos filatélicos consistem na presença e na variedade das diferentes peças. Material não postal e, portanto, não filatélico, não é bem-vindo em uma coleção para ser exposta em competições.
Todos os temas têm suas peças principais bem conhecidas. Uma coleção sobre escotismo, por exemplo, deve conter material filatélico sobre o “acampamento de Mafeking” (ver Figura 2).
Figura 2
Selo e carimbo de 1900, relacionado com o tema MAFEKING.
Alguns temas são particularmente afeitos a certos tipos de peças. Assim, não se admite uma coleção de Natal que não tenha alguns “V-mails americanos” ou “Airgraphs britânicos” (cartas microfilmadas durante a Segunda Guerra Mundial). Ver exemplo na Figura 3.
Figura 3
Exemplo de V-MAIL com mensagem de Natal.
A ligação entre a peça utilizada e o capítulo da coleção que se está ilustrando é fundamental. Devem-se selecionar as peças de melhor qualidade e com bom estado de conservação para compor a coleção. Peças recentes devem estar impecáveis. Peças muito antigas e pouco disponíveis no mercado devem ter o melhor estado possível.
Um conceito essencial é o da “postalização”. A peça filatélica ideal é aquela que circulou ou “viajou”, tendo prioridade sobre aquelas que viajaram "de favor" (normalmente fabricadas por um filatelista) e, sobretudo, aquelas que não viajaram e receberam um carimbo "de favor". A etiqueta de registro e, em alguns casos, as marcas de triagem eletrônica comprovam a circulação.
Eventuais ilustrações no corpo de envelopes e aquelas feitas sem autorização dos correios, por particulares no corpo de inteiros-postais, nada têm a ver com sua parte postal. Nesse caso, deve-se lançar mão das "janelas" ou "gavetas", que mostrarão apenas aquilo que interessa. Outra opção, no caso de peças de menor valor e de maior facilidade para adquirir, é recortar a parte que interessa.
A título de orientação, a seguir são apresentados alguns sites de interesse, onde material importante (tanto didático como filatélico) para todos os temas poderão ser encontrados (declaro não ter conflito de interesse com nenhum deles):
A)Sites de Clubes, Associações e Federações:
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Federação Internacional de Filatelia (FIP) - Thematic Philately Commission: http://www.fipthematicphilately.org
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Federación Interamericana de Filatelia (FIAF) - Comissão Temática: http://tematicafiaf.blogspot.com.br
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American Topical Association (Associação Americana de Filatelia Temática): http://americantopicalassn.org
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Association Française de Philatélie Thématique (AFPT): http://themafpt.online.fr/index.php
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British Thematic Association (BTA): http://www.brit-thematic-assoc.com
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Centro Italiano di Filatelia Temática (CIFT): http://www.cift.it
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Thematic Stamp Sites List (Lista de sites relacionados com Filatelia Temática): http://www.stamphelp.com
B)Sites de comerciantes especializados em Filatelia Temática:
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A. Karamitsos: https://www.karamitsos.com
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Auktionshaus Christian Wapler, de Berlim, Alemanha: http://www.wapler-themaphil.de
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Ercole Gloria, SRL, de Milão, Itália: http://www.ercolegloria.it
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France International, dos Estados Unidos: http://www.stampsbythemes.com
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Japhila, de Praga, República Tcheca: http://www.japhila.cz
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Nahues Auktionen, de Essen, Alemanha: http://www.nahues-auktionen.de
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Philatelie Gärtner, de Bietigheim-Bissingen, Alemanha: http://www.philatelie-gaertner.de
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Westminster Stamp Gallery Ltd., de Foxboro, Estados Unidos: http://www.westminsterstamp.com
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Yuhai Topicals, da China: http://www.5iyu.com/topicals.php
Máximos Postais em Coleções Temáticas
por Agnaldo de Souza Gabriel (agnaldo.gabriel@uol.com.br)
Para o colecionador que possui máximos postais há duas classes filatélicas reconhecidas pela FIP em que ele pode utilizá-los: a Maximafilia e a Filatelia Temática, assim como as versões limitadas destas, na classe “Um Quadro”. A exibição de uma ou de outra classe depende do tipo de exposição e, geralmente, nas exposições de nível nacional, temos a presença de coleções de ambas as classes.
Uma coleção expositiva de Maximafilia é formada somente por máximos postais, ou seja, esta coleção não deverá ter selos, blocos ou outros elementos filatélicos dispostos junto aos máximos postais. Neste tipo de coleção, teremos sempre dois máximos postais por folha, acompanhados dos textos referentes ao conhecimento filatélico e temático.
Uma coleção de Filatelia Temática, por sua vez, admite o uso de diversos itens filatélicos, desde selos e blocos até carimbos e franquias mecânicas, passando por inteiros postais e envelopes circulados. Tudo o que é de finalidade postal e que, por consequência, também é considerado filatélico, pode figurar numa coleção temática.
As origens da Filatelia Temática e da Maximafilia
No início da Filatelia, tínhamos apenas a Filatelia Tradicional, com os selos sendo colecionados por países e em ordem cronológica de lançamento. As demais classes filatélicas foram surgindo com o passar dos anos, com a profusão das emissões de selos postais.
A Maximafilia surgiu entre os anos 1920 e 1930, na França, a partir da popularização dos cartões- postais a partir de 1900, tendo origem nos postais circulados com o selo colado no anverso (frente) do postal, indicados pela sigla manuscrita T.C.V. (do francês Timbre Côte Vue) no verso. Por entender que esta prática contrariava as normas das administrações postais, a União Postal Universal (UPU) proibiu este procedimento em 1934. Mesmo assim os colecionadores continuaram a elaborar suas peças em caráter privado e, em 1974, a Maximafilia foi reconhecida como classe filatélica pela FIP, com a criação de regras próprias.
A Filatelia Temática surgiu no início da década de 30, na Alemanha, visto a quantidade expressiva de selos temáticos que estavam sendo emitidos, vindo a popularizar-se com o final da Segunda Guerra Mundial. No começo, este tipo de coleção era mal vista pelos filatelistas tradicionais, mas hoje a Filatelia Temática é uma das classes filatélicas com mais expositores e, consequentemente, suas regras estão bem estabelecidas e bem difundidas entre os filatelistas.
Recomendações básicas
Apesar de terem origens praticamente na mesma época, a demora na definição das regras da Maximafilia, em parte, fez com que os máximos postais fossem pouco utilizados nas coleções temáticas. É comum ver coleções temáticas expositivas bem desenvolvidas com apenas um único máximo postal na coleção inteira ou até mesmo sem o uso de máximos postais. Mesmo assim, para utilizarmos máximos postais em coleções temáticas devemos ter em mente duas recomendações básicas:
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Certitifique-se que o máximo postal está de acordo com as regras de Maximafilia da FIP: neste caso, procure adquirir o máximo postal com os maximafilistas ou Clubes de Maximafilia. Não é porque um colecionador chama sua peça de máximo postal que ele pode ser considerado como tal. Por exemplo, cartões-postais com múltiplas imagens e/ou que são meras reproduções dos selos são vetados nas regras de Maximafilia da FIP. Na dúvida procure um especialista.
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Utilize máximos postais com muito cuidado em relação às demais peças filatélicas: neste caso, um excesso de máximos postais em detrimento de outras peças pode evidenciar uma falta de material e causar uma avaliação negativa da coleção. O máximo postal, por seu tamanho e características (geralmente é uma peça não circulada, com carimbo de favor), precisa ter seu uso na coleção bem justificado, com o objetivo de valorizar a coleção, ou seja, o máximo postal deve ser a melhor peça entre todas as opções filatélicas disponíveis.
Máximos postais nas regras de Filatelia Temática da FIP
No artigo 3.3 das Diretrizes para Avaliação de Participações Temáticas em Exposições FIP, que trata da “Qualificação do material filatélico”, temos que: “Quando se está selecionando o material para a participação, deve-se dar preferência e maior importância a: (...) correio comercial efetivamente transportado, com marcas postais relevantes, em contraposição a meros documentos de recordação e itens similares produzidos para satisfazer colecionadores, como envelopes de primeiro dia de emissão (FDCs) decorados (mesmo quando emitidos pelo serviço postal), e máximos postais”.
E ainda, no mesmo artigo 3.3, temos que: “O uso de máximos postais deve limitar-se a umas poucas peças significativas, principalmente para tornar mais evidente a informação temática contida no selo. Além da necessária concordância entre motivo, espaço temporal e data, definidos nos princípios da Maximafilia, estes itens devem conter um carimbo de obliteração relativo ao tema”.
As regras, apesar de bem restritivas ao uso dos máximos postais, devem ser entendidas como um incentivo à busca de um máximo postal de qualidade, que realmente faça a diferença na coleção.
Neste nosso primeiro exemplo, o máximo postal retrata o russo Yuri Gagarin, o primeiro cosmonauta do mundo, ou seja, uma figura comum em selos, principalmente da União Soviética e dos países da época do comunismo. No entanto, este máximo postal se sobressai entre as demais peças, pois é o primeiro máximo postal criado além dos limites da Terra, na 19ª/20ª expedição base da Estação Espacial Internacional (ISS). Existem apenas 52 destes máximos postais, que foi premiado no concurso de Melhor Máximo Mundial de 2009 da FIP, obtendo o terceiro lugar.
Como escolher os máximos postais para uma coleção temática?
Além das recomendações básicas, há outros critérios que podemos seguir para a escolha de máximos postais para uma coleção temática, aproveitando-se dos conhecimentos dos regulamentos de Filatelia Temática e de Maximafilia da FIP. Ao utilizar um máximo postal numa coleção temática, dê preferência para:
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Máximos postais “acidentais”: consideramos um máximo postal “acidental” aquele que foi feito sem que a pessoa soubesse que estava fazendo um máximo postal. Máximos postais nestas condições geralmente são bem antigos, do início da popularização dos cartões-postais, por volta de 1900 e, portanto, são mais raros e mais difíceis de conseguir.
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Máximos postais circulados de antes de 1934: a proibição pela UPU da circulação de cartões- postais com o selo no anverso (frente) do postal, feita em 1934, restringiu este tipo de material. Se for utilizar um máximo postal circulado, é melhor que ele seja circulado antes desta proibição.
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Máximos postais de antiguidade “A”: a antiguidade de um máximo postal é definida no artigo
4.4 das Diretrizes para Avaliação das Participações de Maximafilia em Exposições FIP e traz a classificação “A” para máximos postais feitos “antes de 1946, data da primeira publicação de definição de máximo postal”.
Neste segundo exemplo, temos um máximo postal retratando João Pessoa, então presidente (o equivalente aos atuais governadores) da Paraíba. O conjunto é formado pelo selo da Revolução de 1930 (RHM C-28, emitido em 29/04/1931), pelo cartão-postal emitido pela Photo Iris retratando o então governador e pelo carimbo da cidade de João Pessoa, com data de 28/07/1931.
Obs.: Há muitas peças com diferentes selos base e com carimbo da Paraíba desta época. A maioria delas, no entanto, não é um máximo postal devido à falta de concordância de local do carimbo.
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Máximos postais com cartão-postal, selo e/ou carimbo raros: ainda no artigo 4.4 das Diretrizes de Maximafilia, temos que “a raridade de um máximo postal depende: da relativa raridade dos três elementos (carimbo, selo e cartão-postal), cada um em sua própria área de interesse”. Assim, um cartão-postal, selo ou carimbo raro, apresentado num máximo postal, irá valorizar ainda mais o conjunto. Leve em consideração, por exemplo, a antiguidade e tiragem do cartão-postal, a tiragem do selo, o período de utilização do carimbo e do selo.
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Máximos postais triplos: um máximo postal triplo significa que o selo, o cartão-postal e o carimbo têm imagens semelhantes, evidenciando as concordâncias existentes num máximo postal. O artigo 4.3 das Diretrizes de Maximafilia traz: “a obliteração é bem mais interessante quando é feita em um lugar de estreita ligação com o tema, complementando harmoniosamente o conjunto selo/cartão-postal através da sua ilustração ou do seu texto, e se foi utilizada por um maior ou menor período de tempo”.
Neste terceiro exemplo, temos um máximo postal retratando as palmeiras imperiais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, num exemplo de máximo postal triplo. O conjunto é formado pelo selo dos 150 anos do Jardim Botânico (RHM C-412, emitido em 13/06/1958), pelo cartão-postal emitido pela Cromocart nº 49 retratando as palmeiras imperiais e pelo carimbo ilustrado de 1º dia de circulação, retratando uma palmeira imperial, da cidade do Rio de Janeiro.
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Máximos postais com carimbos da data de lançamento do selo: quanto mais próxima a data do carimbo do dia do lançamento do selo, melhor será o máximo postal. Para máximos postais mais antigos, especialmente aqueles feitos antes de surgirem os carimbos especiais de 1º dia de circulação, um carimbo de expedição com a data do primeiro dia de circulação do selo também irá valorizar o conjunto.
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Máximos postais com tema mais próximo ao desenvolvimento do plano da coleção: de acordo com o artigo 3.2.2 das Diretrizes da Filatelia Temática, devemos ter uma “equilibrada utilização das peças de acordo com a importância do detalhe temático a que se referem”. Neste aspecto os máximos postais podem melhor evidenciar o tema presente no selo.
Conclusão
Segundo o artigo 4.2.2 do Regulamento Especial para a Avaliação de Participações Temáticas da FIP, o filatelista temático terá sua coleção avaliada quanto à “presença da mais ampla gama possível de material postal-filatélico e seu uso equilibrado”. Isto significa que não devemos deixar de fora os máximos postais, mas sim, segundo o artigo 3.3 das Diretrizes de Filatelia Temática da FIP, utiliza- los com moderação, “para tornar mais evidente a informação temática contida no selo”.
Em resumo, o filatelista, ao utilizar um máximo postal em uma coleção temática, deve fazê-lo com o objetivo de melhorar a sua coleção e não apenas para ocupar o espaço vazio!